sábado, 1 de agosto de 2009

"Porque existem Três Magos no Tarot de Thoth?"

Chegou-me por e-mail esta dúvida - relacionada à postagem anterior - e achei interessante responder no Blog, pois é uma dúvida muito comum entre os iniciantes no estudo do Tarot.e da Tradição Para resumir em uma única linha: só existe um - e apenas um - Mago no Tarot de Thoth, os outros dois são versões de "rascunho" - tentativas anteriores de finalização deste Arcano que não foram aprovadas pelo idealizador deste baralho.

Para entender melhor como isto aconteceu, temos que falar um pouquinho da história de como foi elaborado o Tarot de Thoth. Este Tarot foi o resultado de um trabalho conjunto de Aleister Crowley (1875-1947), conhecidíssimo Ocultista, Poeta e Mago inglês, e Frieda Harris (1877-1962), artista plástica e discípula de Crowley, também inglesa. Funcionava mais ou menos assim: Crowley ditava o simbolismo que deveria ter na carta e Frieda Harris ia tentando reproduzir em uma pintura os conceitos que Crowey ia lhe passando de uma forma coerente e esteticamente agradável. Dois dos Três Magos são tentativas que não “deram certo” e a prova disto se encontra neles mesmos: é só olhar de perto, como faremos aqui.

Tentativa Número 1: O Mago


A primeira tentativa de representação deste Arcano (acima reproduzida) ainda é chamada de “O Mago”. Posteriormente Crowley iria mudar o Título deste Arcano para “O Magus”, como aparece nas duas subsequentes. O Título de "Magus" representa, em seu aspecto mais simples, um grau iniciático da "Ordem Hermética da Aurora Dourada" - Hermetic Order of the Golden Dawn - sociedade filosófica que floresceu nas últimas décadas dos século 19 e princípios do século 20 - e da qual Crowley fez parte. O grau de Magus representa o segundo grau mais alto que pode ser atingido no Sistema Mágico e Iniciático da Aurora Dourada, sendo reservado para seres do porte de Jesus, Hermes, Buda, etc. - o quê tem tudo a ver com o simbolismo deste Arcano.

Neste "rascunho" do que viria a ser a versão definitiva, percebemos claramente que o Personagem central tem os seus braços e pernas articulados em forma de Suástica. Simbolicamente, a Suástica corresponde, à letra hebraica Aleph, a primeira letra do alfabeto hebraico. Isto é estranho, porquê o Mago corresponde à letra Aleph na Escola Francesa de Magia (Eliphas Levi, Papus, G. O. Mebes, etc.) . Na Escola Inglesa de Magia (representada na época pela Ordem Hermética da Aurora Dourada), o Mago corresponde à letra Beth. Para que conhece a tradição por trás do Tarot, fica claro que existe aqui um conflito entre as duas Escolas. A explicação disso muito possivelmente se encontra na própria trajetória biográfica de Aleister Crowley, que teve a oportunidade de participar tanto de uma como de outra Escola.

Tentativa Número 2: O Magus ou “O Mago Negro”


Esta segunda tentativa já possui o Título alterado para “O Magus”, o que pode ser interpretado por uma tendência de Crowley a adotar a Escola Inglesa como referência principal no seu Tarot. Se observarmos na borda inferior da lâmina, veremos que as correspondências de Planeta e letra hebraica já estão “invertidas” em relação à tentativa anterior. Ou seja: o Planeta do lado esquerdo de que olha e a letra hebraica do lado direito. Se reparamos bem, veremos que na tentativa anterior, o Planeta estava do lado direito e a letra do lado esquerdo. A disposição que vemos aqui nesta lâmina é a que vai ser seguida em todos os demais Arcanos Maiores - e por isso também sabemos que ela está mais "perto" da versão final que a tentiva número 1.

Também é fácil perceber que o personagem em questão não possui os braços. Sabemos que a perda do(s) membro(s) é um Símbolo de castração, o que parece ser confirmado pelo fato de a genitália do personagem estar ocultada pelo Caduceu alado (um emblema de Mercúrio) que aqui atua tanto como tapa-sexo quanto como substituto ao phallus ausente. Ora, a palavra hebraica “Aleph” significa “boi”, isto é, um touro castrado. Percebemos portanto que persiste aqui, ainda, um certo conflito – embora mais sutilizado, mais simbólico – entre as duas Escolas de Simbolismo, Francesa e Inglesa, mas já com grande predominância desta última.

Uma curiosidade: esta lâmina também é conhecida como “O Mago Negro” devido à sombra que pode ser vista por detrás do personagem. Algumas pessoas, por este motivo, retiram esta lãmina do Tarot antes de deitar as cartas, por acharem que dá "má sorte".

Versão Final: O Magus


Esta é a versão final - "definitiva" - do Arcano. Podemos perceber sem dificuldade que o grau de acabamento é nitidamente superior em relação às duas outras lâminas. O phallus se encontra presente por detrás do personagem - é o pilar, o eixo, o centro ao redor do qual giram os 9 objetos que podem ser vistos na figura, da mesma forma que o Sol é o centro ao redor do qual orbitam os nove planetas do nosso sistema (estou incluindo Plutão aqui , a despeito da polêmica). As outras cartas foram introduzidos pela companhia que produz a versão “Suíça” do Tarot de Thoth (A. G. Mueller), aparentemente apenas como um “brinde”, sem nenhum outro propósito. Nos anos que se seguiram não faltou, a bem da verdade, quem lhes atribuísse os mais diversos significados de cunho pretensamente "esotérico" e mesmo quem defendesse a sua utilização - ou exclusão - no processo divinatório. Podemos dar até mesmo aqui uma sugestão nossa neste sentido.

Se a tentativa número 2 é “O Mago Negro”, a tentativa número 1 poderá ser entendida como “O Mago Branco”, e a versão final como o equilíbrio final entre os opostos representados pelo outros dois Magos. De um ponto de vista histórico, isto pode ser entendido como o “casamento” das duas Escolas de Magia neste Tarot, ou ainda, de um ponto de vista simbólico, da integração das polaridades, luz e sombra, masculino e feminino, alto e baixo, em um único “filho” simbólico. Voltaremos a falar nisto em uma outra oportunidade. Por ora, indenpendentemente do que acreditamos serem os Magos “extras” do Tarot de Thoth, só nos resta admirar este belíssimo Tarot e toda a Filosofia que ele contém.

5 comentários:

  1. Olá Yuri,
    Muito boa sua análise. Parabéns!!!
    Gostaria de convidá-lo à participar de minha comunidade no orkut. Posso postar seu texto lá? É claro que menciono seu blog e sua autoria...
    Grande abraço

    ResponderExcluir
  2. Olá Yuri,
    Muito interessante a sua pesquisa.
    Eu tive uma professora em Brasília que antes de qualquer jogo embaralhava todas as cartas como ritual e retirava apenas uma: no caso de sair O Mago, ela simplesmente cancelava a consulta sem mais explicações...
    Eu amo as pinturas de Frieda Harris, são belíssimas.
    Abraços,
    Ekatala

    ResponderExcluir
  3. Olá Yuri

    obrigada pelo convite pois de outra forma ter-me-ia passado ao lado um artigo tão bom quanto este.

    Na verdade tal questão nunca me tinha vinda à mente, pois só quando comprei o tarot em versão maior é que vinha com mais dois magos. Olhei-os e nao me disseram anda, talvez por já estar habituada a usar o outro.

    Todavia, este artigo fez-me pensar sobre esse assunto. A sua visão parece-me muito correcta, mas ficou em mim um ponto de interrogação. Irei meditar sobre elas e se tiver algo mais para partilhar fá-lo-ei.

    Obrigada pela beleza desta partilha. Adoro trabalhar com o tarot do Crowley, apesar de nunca ter entrado na sua prática de artes mágicas. alvez um dia ;)

    Um abraço e será sempre bem-vindo no meu Grimoire onde espero poder continuar a aprender e partilhar consigo.

    ResponderExcluir
  4. Os 3 magos representam as 3 escolasde magia, Amarela, branca e negra.
    No magick sem lagrimas, cap 6,7,8 Crowley exolica a relacao das 3 escolas.

    ResponderExcluir