quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Carnivàle e os Arquétipos do Tarot

Em minhas andanças na Internet achei a abertura (abaixo) do extinto seriado Carnivàle, produzido pela HBO nos anos de 2003 e 2005. Eu, que sou o orgulhoso possuidor do Box do primeiro ano da série, não pude deixar de reproduzi-la aqui neste post.

Nesta belíssima seqüência de abertura, os Arquétipos do Tarot aparecem como pano de fundo dos acontecimentos históricos do período da série – anos 30, logo após o crash da Bolsa de 1929 e no auge da Grande Depressão. O contexto sócio-econômico do mundo da época também se encontra aqui bem representado: longas filas de desempregados, movimentos políticos hostis a minorias (aqui representados pela Klu Klux Klan e pelo facismo), líderes carismáticos (como Stalin e Mussolini). Dois momentos marcantes para mim são: a criancinha vestida com o uniforme do Klan e o casal de dançarinos.

Os Arcanos do Tarot representam aqui as forças que moldam o destino das massas sem o seu conhecimento. O término da abertura mostra a seqüência de cartas: O Julgamento (Arcano XX), A Lua (Arcano XVIII) e O Sol (Arcano XIX), representando, no espírito da série, a decisão – ou Julgamento – que deve ser tomado pelos personagens principais – e que representam as decisões da raça humana como um todo – entre o caminho da Magia e da Intuição – o Caminho da Lua – e o Caminho da Ciência e da Razão – o Caminho do Sol. Isto se encontra perfeitamente exposto na introdução ao primeiro episódio, narrada pelo anão Samson:

"Antes do início, depois da grande guerra entre o Céu e o Inferno, Deus criou a Terra e a entregou ao engenhoso macaco chamado homem. E a cada geração nascia uma criatura de luz e uma criatura de trevas. E grandes exércitos se enfrentavam noite afora na antiga guerra entre o bem e o mal. Era um tempo de magia. Nobreza. E inimaginável crueldade. E foi assim até o dia em que um falso sol explodiu sobre a Trindade (Trinity), e o homem trocou para sempre a maravilha pela razão.

O “falso sol” é uma alusão à explosão-teste da Bomba Atômica em Trinity em 1945. Este é mais um indicativo de que a série, originalmente, deveria cobrir um período maior de tempo – pelo menos de 1934 a 1945 – sendo que o cancelamento prematuro (por falta de audiência) limitou o arco de histórias.

*** ATENÇÃO: Spoliers adiante !!!!!!!!!!!!!!! ***

A "mitologia" da série gira em torno da trajetória do jovem Ben Hawkins que se une a um circo intinerante (o Carnivàle do título) - a princípio como um simples faz-tudo. Logo no primeiro episódio descobrimos que este possui o dom de curar. Isto, no entanto não acontece sem um preço: para cada quantidade de "vida" devolvida a uma pessoa, uma quantidade igual de "vida" é roubada dos que estão à sua volta - de forma a manter o equilíbrio no Cosmo. No decorrer da série fica bem claro que o dom dar "vida" é também o dom de tirar a "vida" - ou seja, de matar - sendo meramente dois lados de uma mesma moeda. Isto por si só já é muito interessante e mexe com a cabeça da gente. A série acompanha também a vida do Pastor Justin Crow que possui também o seu quinhão de dons incomuns. Ficamos sabendo, no decorrer dos episódios, que um deles é a encarnação da "luz" e o outro a encarnação das "trevas", embora no início não fique muito claro qual é qual. Não vou dizer aqui para não estragar a surpresa. Junte isso com uma trama que envolve anões e mulheres barbadas, cavaleiros templários e muita, muita, muita referência religiosa e o resultado é diversão de alto nível.

Meu episódio favorito da Primeira Temporada: Babylon (5o epiódio)
Conexão com o Tarot: Arcano XI

Meu episódio favorito da Segunda Temporada: New Canaan (series finale)
Conexão com o Tarot: Arcano II



Post-scriptum: Uma coisa que eu particularmente adoro nesta série é a magnífica reconstituição de época: outro espetáculo a parte. Todo lugar é quente. Todo lugar é sujo. A poeira é quase um personagem fixo da série. Tudo perpassa um ar do mais absoluto desespero.

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